Luís
Pereira da Silva é antropólogo e professor associado no Instituto Superior de
Psicologia Aplicada. Este artigo foi retirado da revista Sociologia – Problemas
e Práticas em 1993 e nele é feita uma abordagem ao carácter social da doença. O
autor começou por identificar os sistemas de pensamento e acção que estão
presentes nos doentes, sendo estes a ciência, a religião e o esoterismo.
As
atitudes face à doença são condicionadas pela sociedade em que se está
inserido, recorrentemente, encontramos a mesma doença a produzir efeitos
diferentes em doentes, o que nos reporta para a individualidade exigida no
sucesso do tratamento, este não significa apenas a prática clínica.
Aliás,
é aqui que reside a resposta à nossa questão de partida. De acordo com este
autor o discurso científico não chega a toda a população, facto que origina a
busca, por parte desta população, de novas técnicas de cura. Neste artigo a
expressão “medicinas paralelas” englobam a medicina popular como a medicina
alternativa.
Há
no artigo uma reflexão sobre a representação da doença na sociedade, reflexão
interessante mas que foge do nosso âmbito de investigação. Optámos assim, por
evidenciar os aspectos que julgamos pertinentes para ajudar na compreensão
deste fenómeno social.
A
doença é um facto social que só pode ser apreendido num contexto
espacio-temporal e interpretando as diversas conjunturas sociais. Actualmente o
que observamos é que a medicina científica “ […] nem sempre dá uma resposta
cabal […], existe uma notória dificuldade de comunicação entre os produtores de
discurso médico, técnico e pretensamente unívoco, e os receptores, não
familiarizados com a terminologia utilizada […], não entende o que lhe é dito [...].”
A
acrescentar a esta situação, oferece-nos dizer que as medidas funcionais da
medicina científica não são acompanhadas por um acréscimo significativo do
papel do indivíduo relativamente à doença que tem. Segundo Luís Silva Pereira,
no ocidente assiste a uma directiva em que a doença só faz sentido quando é
escutado o saber médico experimental mas, é de todo aceitável que numa
sociedade camponesa, onde as relações interpessoais são ainda fortes e onde o
peso da tradição se faz sentir que a doença ainda se exprima singularmente em
cada indivíduo. Nas grandes urbes, […] a doença e a morte são brancas -
tornam-se anónimas […].”
Os
doentes podem recorrer a três sistemas de pensamento e acção para curar a
doença. São eles a ciência, a religião e o esoterismo. Depois de identificados
o autor procedeu à sua caracterização. A ciência está relacionada com o
conhecimento experimental, em que só é validado o que se observa e mede mas que
é materialista e decompõe o indivíduo. Está assente no pressuposto do racionalismo
onde a técnica de investigação é baseada em encadeamentos sucessivos de
causa-efeito. A religião é experiencial, onde a fé, via exclusiva ou
complementar de cura do doente, na entidade divina possibilita a concessão de
graças ao doente que reza e se entrega aos desígnios superiores. “O esoterismo
caracteriza-se como o modo de pensar e de sentir comum aos visionários, a
vários tipos de curadores – acupunctores, médiuns, magos, feiticeiros, etc. – e
a outros agentes de um saber que se revela, ainda que em diferentes graus,
sistemático e ordenado de acordo com instrumentos teóricos capazes de
interpretar o mundo […]”. O esoterismo sustenta uma interpretação integral do
indivíduo e do mundo.”Esoterikós” é igual a interior, esoterismo é a procura do
interior do indivíduo, visão apoiada na unidade e totalidade do indivíduo.
O
autor responde-nos dizendo que “As estratégias sociais de cura têm como opção
estes três campos do conhecimento, os quais podem ser utilizados quer cada um
deles exclusivamente, quer dois ou mais cumulativamente (…) isso depende do
grau de satisfação que o indivíduo tenha relativamente ao discurso que é o
privilegiado na sociedade ocidental (i.e., o produzido pela ciência médica), o
grau de informação que o doente dispõe e o grau de angústia que a doença lhe
provoca.”
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